Somente este ano, 16 policiais militares foram assassinados no Estado da Bahia. Os números da corporação mostram que 12 dessas mortes aconteceram quando os PMs sequer estavam em serviço. As outras quatro vítimas perderam a vida quando lutavam contra a violência.
Com receio de serem os próximos na estatística de óbitos, alguns PMs pensam em desistir da carreira. O dia-a-dia desses profissionais é repleto de dificuldades financeiras e muitos vivem em bairros em que o tráfico de drogas dita as regras.
Para proteger a si mesmo e a própria família, a única saída é esconder a farda e não divulgar a profissão. Um exemplo é o sargento Rivaldo, de 38 anos.
Assim, como os outros policiais dessa reportagem, seu nome é alterado para preservar sua identidade.
Com 15 anos de serviço, Rivaldo acorda antes de o sol nascer para trabalhar. A farda é mantida dentro do módulo, sendo levada para casa a cada três dias. “Depois de lavada, coloco para enxugar dentro do quarto, em um espaço que ninguém vê”, diz.
Boca-de-fumo - Rivaldo conta que atrás de sua casa, no bairro de Pirajá, existe uma boca-de-fumo. Então, a regra é jamais sair fardado e sempre levá-la dentro da mochila, embaixo de um amontoado de roupas. “Quero mais tranqüilidade. Meu próximo passo é fazer faculdade de Direito. Desisti da carreira na polícia”, desabafa.
O salário de um policial militar varia de acordo com as gratificações recebidas como servidor público. O salário-base é de R$ 417,84, valor que é somado com a Gratificação de Atividade Policial (GAP), o auxílio-alimentação, dentre outros. No final das contas, a remuneração ficam em torno de R$ 1.800.
“É pouco dinheiro e muito risco de vida”, comenta a soldado Cristiane, 31 anos. Há nove anos na PM, Cristiane entrou na corporação pela estabilidade de um cargo público. Agora, sonha em fugir da violência por meio de outro concurso, mas dessa vez em um cargo federal.
“Somos alvos móveis. Estamos expostos e não somo valorizados”, comenta, lembrando que seu marido “vive em pânico” e faz questão de buscá-la todos os dias no trabalho. Cristiane mora no Vale das Pedrinhas e diz conhecer os criminosos do bairro.
Para garantir que nada lhe aconteça, faz questão de mostrar aos vizinhos que é professora. A área do ensino, no entanto, é apenas um “bico” que faz nos horários em que não tem obrigações no posto da Polícia Militar.
Empregos - Ter uma fonte de remuneração extra é algo comum na categoria. Se a comunidade reclama pela falta de policiais nas ruas, fácil mesmo é encontrá-los à paisana, como seguranças privados de lojas, faculdades, centros comerciais e condomínios residenciais.
O sargento Luciano, por exemplo, está há 28 anos na PM e ao longo de todo esse tempo atuou como segurança privado. Hoje, ganha R$ 1mil para cuidar do patrimônio de uma empresa próxima do Shopping Salvador, na Avenida Tancredo Neves.
“Quando não estou na PM vou para o ‘bico’. Ou é assim ou não pago as contas”, explica. Seu salário é de R$ 1.200, graças aos descontos de empréstimos para pagar dívidas, além da prestação que tem de ser paga depois de ter financiado a casa própria. Luciano mora em Itinga e trabalha no policiamento do subúrbio. Aos vizinhos conta que é segurança. Seu medo é acabar como um amigo da PM, morto baleado na frente de casa: “Tenho filho de 24 anos que só me viu de farda uma vez. Dou mais segurança a minha família se ninguém souber que sou da polícia”.